domingo, 17 de abril de 2011

Condição, comodismo e opinião.



São 10h. Você está sonolenta, acabou de acordar.
Do seu lado, o celular/despertador toca a música romântica em espanhol pela 67ª vez, você chega a conclusão que aquela música é tão doce que só provoca sono, troca por um heavy metal que você detesta, assim fica mais fácil acordar. Olhando ao seu redor, o quarto ainda está escuro, as portas estão fechadas e o ventilador velho está funcionando e fazendo aquele barulho engraçado. Você observa tudo, depois passa as mãos suavemente para sentir sua pele,"Está tudo no lugar?" se pergunta. Toca e cheira seus cabelos, levanta-se e forra sua cama com um lençol que pode ser florido ou talvez liso. Você tem medo de abrir as janelas, sabe que o sol é prejudicial ao seu rosto, o sol é bonito, mas fere. Então você prefere deixar as janelas fechadas.
Logo se aproxima de seu melhor amigo pendurado na parede próxima, toca seu reflexo. Você sente uma espécie de comichão dentro do peito, sente alguma falta inexplicável, e queria telefonar para alguém. Mas para quem? pra falar o quê? você torna a observar o espelho e percebe que a imagem refletida ficaria muito melhor se houvesse outra pessoa lá. Você passa a perceber que sente falta de coisas que não existem.
Abre a porta do quarto e vai ao banheiro. A água jorra e você novamente lava seu rosto com a água fria. "Dilata os poros" foi o que lhe disseram, a água é fria e você imagina se poderia ser tão fria quanto. O sabonete que lhe receitaram não cheira bem, você precisa aplicar uma máscara de mel para cobrir o mau cheiro e algumas imperfeições. Imperfeição. Você tem nojo de ouvir essa palavra. Olha-se novamente no espelho, a sensação de vazio, de angústia e de medo vão tomando conta de você. Seu reflexo é puxado, seu rosto é estraçalhado e você sente muito mais medo. É como se você fosse levado, mais uma vez, para o mundo dentro do espelho. Um mundo de imperfeição e de padrões. Você morre de medo disso, você desvia o olhar do espelho e fita a água, enxuga o rosto e vai embora. Vai viver seu dia, sua vida, procurando não ter medo disso. Fugindo de espelhos tão padronizados. Beleza é só uma questão de condição, comodismo e opinião.


@ritaoliveiram

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