Pelas tardes ela caminhava pelas ruas de areia,
suas pernas pequenas e cansadas.
Olhos tristes e lágrimas de dor...
Os lábios sorridentes haviam desistido.
Linda, em seu vestidinho de renda.
Linda, e uma margarida entre as mãos branquelas.
Linda.
Era linda.
Os passos apressados, os risos disfarçados, condenados...
Perfeita, a boneca.
Imperfeita na sua perfeição.
Mesmo assim, as pessoas a amavam.
Admiravam os orbes azuis, amavam a fronte loura sobre a luz...
Que passava sobre a rua, que colhia na velha horta...
Seu cadáver, perfeito assim, também foi encontrado perto da porta.
A rua era de barro, e as pedrinhas redondas decoravam o caminho. Era bonito, pra falar a verdade. Seu vestidinho branco rendando contrastava bem até demais com o laranja seco do chão. Seco chão.
Suas perninhas tremiam, mas ela insistia em caminhar. Dia após dia, sem cessar.
Aquela tarde ela repetiu o mesmo trajeto, passando pela mesma mansão rústica, sem notar o mesmo olhar de sempre a acompanhá-la.
O olhar sorria para a fraqueza de Alice. Interessante.
Alice, Alice... quero você nesta valsa, quero-a agora, minha doce Alice...
E ela dançou.
Naquela tarde, as coisas não foram iguais...
Tentador, o jovem rapaz que a convidava com os olhos perjuros...
"Venha, Alice... vamos para o país das maravilhas"
"Bem vinda, Alice"
Mas o nome dela não era Alice...
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Deram-lhe roupas novas e bonitas, tudo para deixa-la ainda mais linda. A perfeita bonequinha. Mas ela já sabia, sabia não era Alice? sabia que não escaparia, tudo culpa de sua fraqueza.
Alice, Alice... perdeu-se dentro dos olhos do ilusionista? Corre atrás do coelho, Alice! Atrasado, atrasado, atrasado...
Ela sabia o que aconteceria depois. Mas duvidava... ela confiava nas pessoas. Pobre tola.
"Sente-se Alice"
"Tome este veneno"
"Dance comigo, seja minha"
"Feche seus olhos de vidro, e não os abra mais"
Saia, fuja, corra o mais rápido que puder, pequena Alice!
Mas eu sei, você não faria isso... pobre tola, tão manipulada pelo medo...
Hora de ir embora. Corra contra o tempo, não pense, não tema, cuidado para não tropeçar! Não chore, corra, Alice!
Ela tocou docemente a maçaneta, mas um par de mãos brancas a impediu. Ele sorriu. Ela gritou.
Sinto falta de Alice.
Dos olhinhos de vidro, do sorriso mudo, da fraqueza...
A pele ainda é branca e macia, mas ela não pode mais sorrir...
O coelho branco a roubou, levou a pequena para o país das maravihas...
Tão doce, Alice...
Tão linda...
Tão ingênua... cândida menina...
Tão fraca...
É, isso é mesmo uma pena.
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Este foi um momento assassino da @ritaoliveiram
(baseado em "Alice no País das Maravilhas" e inspirado aleatoriamente em uma frase de uma fanfic que eu não lembro... mas serviu bastante).
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