sábado, 30 de abril de 2011


Ela sorria para o mar como quem sorria esperando uma resposta.

Qualquer resposta.

As ondas batiam na praia e seu coração acompanhava, descompassado. Sem ritmo. Seus cabelos voavam perdidos no vento enlouquecedor, mesmo assim seu corpo não apresentava movimento.

Eu quis falar alguma coisa, juro. Só que o que eu falasse seria tão frio quanto aquela areia gelada.

Era uma sina somente dela, e eu não poderia jamais acompanhá-la. Suas roupas dançavam com o vento. Ela era tão livre... e pensar que nossas vidas seriam uma tradição monótona e supersticiosa. Sem aviso, ela sorri em minha direção e levanta.

Acabou.

Ela já havia decidido e não haveria nada que a fizesse mudar de idéia. Seus olhos brilhavam com toda a determinação que me faltava, até o carinho e compaixão que expressava. Gostaria de recolhê-la em meus braços, tão precisa que me assustava. Ela sempre seria o reflexo da verdade que eu não enxergava.

Seu olhar não me escondia nada, e isso me colocava em perigo. Um perigo maior que as suas escolhas. Então não quero seu olhar.

Prefiro seu sorriso.

Seu sorriso me fazia uma promessa suavemente doce. Que se eu pudesse descrever em palavras, diria: Um sorriso é o bastante.

Desprezível brinquedo.



Não parece, mas ele a ama. Não, na verdade parece. É óbvio que ele a ama. Ou ao menos é isso que ele quer nos fazer pensar.

Provavelmente eles não chegarão a ficar juntos- ele prefere não pensar nessa idéia, porque iria destruí-la um pouco - talvez. Porque segundo ele, ela não o ama. E ele pode estar certo, não pode?

Mas ele sabe que ela sente alguma coisa. Talvez o ame... mas isso ele não sabe. Acho que ela não se importaria em beijar os lábios dele, não se importaria em sentir a mesma intensidade que ele... Eu acho. Minha certeza varia na mesma dúvida de sempre.

Quer saber um segredo? Isso parece um diário, certo?

Ele a amava porque era tão patético que chegava a ser bonito.

Talvez ela soubesse ler mentes... Especialmente a dele. Ele não gostava disso, não gostava de ser facilmente lido. Mas era. Talvez se ela gostar dele como ele gosta dela, eu poderiam dizer eles tem uma ligação bem mais forte do que se poderia imaginar...

Ele treme. Ele tem medo. Amar é uma coisa perigosa demais.

(Mas ele sabe que só é mais um ataque de timidez. Isso vai passar).

Por quê seus olhos permanecem dessa maneira?

Isso é desprezo ou é amor? Se é amor, é o amor mais triste que eu já vi...

Mas ninguém disse que o amor precisava ser uma coisa feliz... não, ninguém disse.

O amor é bonito? Não, esse amor não. Talvez seja. Mas é um amor desprezível!

Outro segredo: isso me diverte. Esse amor... parece um brinquedo.

Mas eu tenho medo, entendem?

Por quê? Ora, Parece um brinquedo...

E alguns brinquedos são frágeis demais.


Um texto antigo, e eu achei que ele merecia ser postado. Afinal, todos nós gostamos de brinquedos, certo? mesmo os perigosos.

@ritaoliveiram




sexta-feira, 29 de abril de 2011

Acontece

A vida nos prega peças
nos faz de vítimas
de assassinos
cúmplices de algo que não vimos
ou não queríamos ver

a vida junta
e com mesmo ímpeto
separa
rompe laços a medida que cria novos
mas depende de nos fortalece-los
ou segura-los
que a vida continue
que o mundo gire
e que a distância nunca separe
duas almas um dia unidas

João F Neto

A dor suja e maravilhosa

Nesse dia eu queria
ter o mundo pra mim
um mundo pra mim.

Eu queria que o tempo fosse meu;
que cada cena fosse especial.

Seria bom que essa dor passasse
Essa acupuntura no pescoço
dói muito.

Quando eu voltar,
se eu voltar,
não os quero aqui,
eu quero poder me curar
eu quero poder descansar
eu quero poder sorrir
eu quero não precisar me importar,
eu quero ouvir todas essas melodias
eu quero ser surdo à boca dos outros
eu quero entender uma só frequência
eu quero uma frequência que só eu entenda.

Eu vou desajeitar o meu cabelo
e quero ver quem vai rir;
Eu vou dizer coisas absurdas
e quero ver quem vai dizer
que eu sou maluco
quem vai dizer a verdade;
porque a verdade só a mim interessa.

E aí tem a tal dor
que faz esse poema nascer
v-a-g-a-r-o-s-a-m-e-n-t-e;
ele gasta muitas linhas de você,
caderno meu;
caderno furtado;
importância transformada;
futilidade útil.

Eu não quero os outros
Eu não quero esse lugar
Eu quero o meu lugar
Eu quero as pessoas
Eu quero o lixo, o doce lixo.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Peso

"As pessoas 
fogem de mim
perdidas
caóticas
procurando uma solução de solidão
inacabada.
Tudo por medo de encontrar
amor no outro" 
                             [Nayara X. |05.07.10]
@nayarapx

Ama, liberta-te e voa.

PRÓLOGO- ­­­­­­­­­­­­­­

Primeiro, a queda.

Depois, a dor.

Geralmente são os dois. Eu procuro não pensar muito nisso, até porque nem sei ao certo...

Uma pergunta amigável: Você acredita em anjos?

Eu sei, é uma pergunta ilógica... mas metade das coisas da vida não tem lógica, então não me culpe.

O fato é que eu não acreditava.

Um pequeno complemento: nem tudo é o que parece ser.

Eu penso que a primeira sensação é a queda: a consciência de um mundo aleatório... de cores, de loucos. A queda deve doer, no mínimo. Acho que a dor é suportável na medida do possível: até que ponto você suportaria a quebra de laços, do seu ser, e (por mais inacreditável que isso pareça)... até que ponto você suportaria a quebra de suas próprias asas?

Um baque surdo. Parecia que um corpo tinha sido atirado e caído sem vida no chão. Tudo era branco, ou é assim que eu imagino... de fato, acho que era branco. Digo isso porque deve ter sido do branco que ele herdou aqueles olhos: azuis –de um tom cristalino-quase gélidos. Lembro que no início realmente dava medo. Seus olhos pareciam de um cego, e se ele veio mesmo da neve, imagino que queimou-se no frio, ou roubou um pouco do brilho do sol, porque sua face tinha um leve rubor amadeirado. Ele não era muito alto, muito menos forte e tinha cabelos negros como uma noite sem estrelas, era um menino. Vocês sabem, não é? Devem saber que meninos não podem fazer muita coisa por nada nem ninguém. E no início, era só um menino que tinha olhos de gelo.

Sinceramente, não sei porque me prendo tanto aos detalhes... acreditem, não é culpa minha! Perfeccionismo se adquire, mas eu não tive culpa se ele foi passado para mim.

Pois bem, acho que ele veio da neve. Até porque foi justamente na neve que eu o vi pela primeira vez, ou melhor, foi a primeira vez que eu o vi cara-a-cara. Eu. Certamente ele imaginava que eu fitava o nada invés de seus olhos. Mas eu o vi: ele e ela.

A garotinha era levada por um homem de olhos castanhos. Olhos sem vida, sem brilho, olhos castanhos afogados numa escuridão sem fim. Seu braço estava ferido, furado, dolorido. Apesar disso, ela não queria ir.

Vocês deveriam saber que ela quase morreu 1 mês antes. Deveriam saber que eu vi seu frágil coração bater devagar, devagarzinho... quase parando. Eu também o vi lá. O tempo todo. Ele colocava a mão sobre o coração fraco da menina como se implorasse a ele:“por favor, não desista agora” Eu queria que ela desistisse. Pra quê sofrer mais?

Ela o via, mas certamente não sabia quem era. Quem estaria lá, velando pelo seu sono? Ninguém nunca tinha se importado.

Estranhamente, seus olhos sorriam. Os orbes quase com alguma cor, espremidos entre as pálpebras, sorriam e estranhamente, suas bochechas não estavam avermelhadas. Admiro essas pessoas que sorriem com os olhos. O sentimento continuava o mesmo, só que quando estava lá, olhando para o gelo dos olhos do menino, alguma coisa mudava. Alguma coisa faltava. A mudança e a falta se completavam.

Ela sorriu. Quem não sorriria ao brincar com olhos gentis de neve? As crianças adoram a neve e ela era uma criança linda!

Se vocês quiserem e se importarem em saber, a partir daquele momento a neve seria a tradição deles.

Levaram a garotinha em meio a flocos de neve, e as lágrimas que ele chorava eram lágrimas de gelo.


@ritaoliveiram

terça-feira, 26 de abril de 2011

A jóia

Corro
sigo
procuro
não acho
persisto
me engano
iludo
penso
reflito
aquilo que busco ainda não encontrei
quem dirá se encontrarei
tomara que seja
enquanto não chega continuo
o mesmo viajante
que procura a mais bela pedra do mundo
sem saber se encontrará

João F Neto

sábado, 23 de abril de 2011

Um novo instante

Hoje fico assim confuso
nem sei quando poderei te ver de novo
talvez nunca
e isso me entristece
eu só queria
nem que fosse por mais um instante
sentir que estou com você novamente
seu toque por si só me acalmaria
seu cheiro por si só me alegraria
Sua presença por si só bastaria.

João F Neto

sexta-feira, 22 de abril de 2011

E então, temos que crescer. Descobrimos que nosso futuro depende somente da nossa vontade de absorver informações e da nossa capacidade de deixá-las em nossa mente.
Nosso futuro será definido com os nossos olhos: com o quanto que eles podem enxergar, até onde eles podem alcançar, até quando eles ficarem abertos ou até quando eles se abrirem para a realidade.

@ritaoliveiram

Don't speak.


Vamos ver... eu gosto de você. É, eu gosto. Tipo, muito. Eu gosto muito de você. Eu gosto de você gosto de você gosto de você gosto de você sem pausas ou vírgulas ou o que quer que seja. Sério. Eu acho que você devia saber disso, de novo. Quer dizer, acho que isso não te machucaria, não é?

Silêncio.

Tudo bem, tá certo. Vamos lidar com fatos: acho que te amo. Te amo, é. Acho que nunca senti isso por ninguém antes. Penso em você o tempo inteiro e sinto sua falta. Tudo o que eu faço, digo e penso tem você no meio. Tudo. Tudo é feito pensando em chamar sua atenção... ei, eu estou aqui e acho que te amo... como eu posso saber se você gosta de mim pelo menos um bucadinho?

2 segundos depois.

OK. Vou parar com isso, esqueça, é sério. Eu tô meio bêbada hoje. Eu tô louca, obsolutamente louca. Esquece tudo o que eu disse, certo? NÃO é verdade! Eu não acho que eu te ame... amor não, amor é coisa séria, eu não brinco de dizer eu te amo pra qualquer um, não que você seja qualquer um... ah, esquece. Mas nem sei se gosto realmente de você, é só uma coisa boba e rápida, coisa de criança. Mas acredito que tenha sido apenas um jorro momentâneo de inspiração. Não existe nada real aqui, pode ter sido um texto qualquer que eu precisava escrever... Se bem que, eu acho que tenho uma ideia mais proveitosa: sabe a nossa amizade?ela é linda! mas acabei de descobri que a odeio. Vá embora com ela!

Ela vira-o de costas.

Vá embora para bem longe, e eu prometo que você nunca mais terá que olhar na minha cara idiota de novo.

Ele se vira, segura-a e a beija.

Tudo bem. Eu concordo que sou confusa, você consegue entender? perfeito.

@ritaoliveiram

Teus Olhos

Teus olhos me levam para longe
Eu me sinto preso em um labirinto sem fim
Um momento que meus anseios acabam
Sinto-me livre, perdido, no mesmo abismo que caí

Olhos que mentem, olhos que falam
Loucos, amores que me proíbem
Hoje, medo que me leva
Olhos que me matam a cada segundo
Sede que me carrega para um fio de lembranças

Lágrimas que me rodeiam
Olhos que nos meus não vêem
a verdade intrincado no meu olhar
agora percebas de verdade o que sinto
minha alma se engloba sem caminho
Olhos ofídicos que me controlam
Olhos felinos que me libertam
Olhos humanos que me sufocam
olhos que transparecem a verdade
Vejo sua alma a cada olhar
então sinta o que quero expressar

João F Neto

Medo...

Tenho medo do escuro
da incerteza ao não ver
da luz que me falta
da vida que se vai
da flor que não desabrocha
da borboleta que morre
do vazio que me assombra
da imperfeição do ser
das coisas que somos capazes
tenho medo da humanidade.

João F Neto

quinta-feira, 21 de abril de 2011


É, isso deve ser MESMO uma ironia.

Dizem que o silêncio fala mais do que palavras. Sim, mas talvez quem o diga nunca silenciou para entender nada. Talvez na frase intercalada esse alguém tenha odiado o silêncio. Só um pouco. Dizem que o silêncio é a ausência de som, dizem que é aconchegante e nobre. Isto é, o silêncio. Dizem que é amado e... ama. Mas isso é somente o que dizem. Desde pequenos aprendemos que o silêncio é respeito, que as vezes apazigua, as vezes enlouquece. Ninguém nunca ensina que o silêncio machuca mais do que palavras. Não, ninguém nunca fala pra ninguém. Isso, precisamos aprender marcando o silêncio na pele, como uma tatuagem invisível.

Afinal, essa rejuração de votos silenciosos eram somente suas, certo?
aquela re-jei-ção da qual você nunca falava era sobre vocês e de você, não era? Era aquele tipo de coisa que nunca faria sentido. Mas fez, fez e doeu. Principalmente você sentiu. Porque aquele silêncio- o seu- era um nada. E você sabia o que era um nada -sabia- porque nunca era.

Prólogo da fanfic "Vácuo" @ritaoliveiram

É tão fácil olhar você de longe. Eu fico sentada naquele banco e você passa por mim e dá aquele sorriso de canto que só você sabe o quanto me afeta. Um dia, você chegou pra mim e fez só uma pergunta. Por quê você tinha que saber tudo sobre mim? Odiei o fato de você conseguir ler minha mente e odiei essas suas perguntas pessoais estúpidas!
- Por que você desvia o olhar?
(Fui pega desprevinida, confesso. Mas, tudo se resume ao fato de que tenho medo de altura. Tenho medo de cair, cair especificamente dentro dos olhos dele, porque há neles algo que me lembra as grande cordilheiras. Então, desvio o meu olhar para me agarrar a qualquer pedra e fugir do amor. Mas, hoje não encontrei pedra. Encontrei flor. E eu me agarrei às pétalas com toda a força, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos olhos dele. Só dele.)
- Ah, porque eu sou tímida .

@ritaoliveiram

Fale, agora.

Do que você tem medo? Você tem medo de sair sozinha na rua, você tem medo de estar sozinha nesse mundo? Você tem medo de sombras que somem de repente, você tem medo de ilusões? Você tem medo do amor, você tem medo de não encontrar o amor? Do que você mais tem medo? É de ninguém sentir a sua falta? Ou você tem medo de não ter ninguém? Você tem medo de não agradar a todos, ou você tem medo de não ser agradada? O que é mais aterrorizante: o que te deixa com os pelos do braço eriçados? É uma bala perdida, é uma voz soprada na escuridão de uma caverna? O que te assuta? É uma mensagem do além, um guarda roupa que se fecha sozinho, são ameaças em forma de carta na cabeceira da sua cama, ou é perder tudo que você já conquistou? Até que ponto sua mente pode aceitar o diferente como real? Até que ponto você pode imaginar? Até que ponto pessoas que não existem podem conversar com você, até que ponto sua mente suporta prever o futuro? Em que mundo você vive? O amor é bom ou é ruim onde você vive? No mundo que você vive, bruxas, feiticeiras e fadas existem? É tudo explicável? Onde você vive? No mesmo lugar que todos vivemos, ou você é diferente? Você sente coisas estranhas ao seu redor, o seu mundo se tornou uma porção gigantesca de coincidências, você sabe tudo que vai acontecer só não consegue decifrar? Quem você é? Você é normal como todos nós, ou você é diferente, é indecifrável, seu segredo, você contaria ele para alguém, você acha que alguém acreditaria, ou você simplesmente tem medo da fogueira?

@ritaoliveiram