domingo, 15 de maio de 2011

Silêncio

Só sabia que precisava sentir o sabor do silêncio. Do seu silêncio. Fizera um pacto de silêncio com o mundo. Guardaria seus pensamentos para os próximos pensamentos. Não falaria nada nem para si mesmo. Os ressentidos que se suicidassem de desgosto. Nos olhos, nada de brilho, nem um feixe de luz sequer. A imparcialidade perante a vida, embora sentisse no coração o peso do mundo. Um peso leve como uma ave - uma ave presa em sua liberdade do voo -, um peso leve como um sorriso esboçado após a guerra. Um peso de uma criança recém-nascida. Só as ideias na cabeça inquieta, mesmo durante o sono, em que imaginava as coisas mais impróprias para uma mente como a sua. Restaram naqueles dias apenas os juízos sem valor para um mundo ali fora. Alguns dias de egoísmo e retração (quem se importaria com esse seu egoísmo?, todos ainda imaginavam quanto ganharia num dia ensolarado como todos os outros): foi tudo o que lhe restou. Era tudo o que tinha para se contentar.