sexta-feira, 17 de junho de 2011

Aos olhos

Aqueles olhos que tanto me encantam; aqueles que têm feito um sorriso aparecer no meu rosto a cada manhã; aqueles para os quais eu fui feito; aqueles que correram à minha frente tentando retirar todas as pedras do caminho para que minha passagem fosse segura e tranquila; aqueles olhos que no início tanto me perturbaram o sono, mas que agora só me fazem sorrir quando olham para mim; aqueles olhos que sentem e percebem cada fio de cabelo perdido ou cada ruga nova ruga de preocupação; aqueles que são ao mesmo tempo desligados num estado alfa e ligados para cada ameaça que me façam; aqueles que em todas as vezes que precisei chorar compreendeu e só me deixou colocar tudo para fora; aqueles que agora são meus e eu amo; aqueles que eu amo porque precisam que eu os ame; aqueles que me acolheram e me prendem de forma tão intensa que chegaria a sufocar qualquer um menos a mim, aqueles com quem consegui a felicidade plena; aqueles que em meio a insensibilidade conseguem me dizer que me amam; aqueles que sabem que eu os conto a verdade; aqueles que compartilham das mesmas aflições comigo; aqueles que não gostam de coisas prontas e sim de serem surpreendidos pelas minhas novidades; aqueles que eu não conseguiria respirar; aqueles que não importa quantas vezes eu diga que irei embora, pois sei que voltarei de joelhos três passos depois; aqueles que me ensinaram que para viver com eles não poderia estar regado de orgulho; aqueles que são meu escândalo; aqueles que me fazem querer voar sem ter asas, pois eu sempre gostei das coisas mais intensas; aqueles que me fazem sofrer apenas com o silêncio; aqueles que eu vejo se fecharem para ter um sono tranquilo todas as noites ao meu lado; aqueles que quando me vêem acompanhá-los no almoço expressam a felicidade que a minha companhia os causa; aqueles que nunca têm paciência de ler tudo o que escrevo, pois a paciência lhes falta; aqueles que eu precisei encontrar para ser realmente completo; aqueles em que eu precisei confiar para enfrentar o mundo todo; aqueles que eu amo do jeito que são; aqueles que foram capazes de dividir espaços minúsculos comigo; aqueles que foram capazes de dividir angústias, medos, anseios e dúvidas, aqueles que quando me chamam eu não posso demorar; aqueles para os quais tenho de estar pronto para tudo; aqueles que exigem de mim até a última gota de paciência para compreendê-los; aqueles que me mostraram que o amor é a base de toda a existência; aqueles que não precisaram de palavras, elogios ou cantadas para me conquistar, precisaram apenas de um olhar mais fixo, uma sorriso meio tímido, uma atitude meio impensada; aqueles que me fizeram sentir um cheiro novo; aqueles que me fizeram perceber que algo nascia e crescia tão fortemente, incontrolavelmente que chegava a assustar e que apenas o futuro poderia revelar o que seria; aqueles dos quais os gestos são mais fortes, intensos porque não dizer avassaladores; aqueles que me mostraram que não sei amar pela metade, só sei amar a eles e por inteiro; aqueles que quando não posso ver, apenas invento a presença para que a saudade não me sufoque; aqueles que poderiam me empurrar de um penhasco, mas como diria Clarice: e daí, eu adoro voar; aqueles que percebem que eu não sou uma pessoa triste, mas cansado e faminto; aqueles que me mostraram que nunca é tarde, apenas cedo demais e que eu deveria ter paciência e apenas esperar passar; aqueles que me mostraram que nada é comparável a eles, ninguém se compara a eles, eles são inconfundíveis. Àqueles olhos dedico o esforço e o resultado desse trabalho, além de toda a minha vida.

Efraim de Alcântara Matos

Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.


Pablo Neruda


Texto que está na dedicatória de um trabalho de um amigo meu, que por estar incrivelmente lindo pedi pra postar então aproveitem.

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